Pizza, Bagagem no avião, Cartão de Crédito: o que o Estado tem a ver com isso? No Brasil, MUITO!

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O Procon de Fortaleza considerou “abusiva” a prática de certas pizzarias que, ao venderem uma pizza de dois sabores, cobravam o preço da mais cara, em vez de calcular um preço médio.

A ANAC aprovou regra que “autoriza” empresas aéreas a cobrarem por bagagem despachada.

O STJ proíbe preço maior para pagamento de compras efetuadas com cartão em relação às realizadas com dinheiro, ou o mesmo procedimento relacionando cartão de crédito com débito.

Sabem qual o resultado prático de intervenções estatais deste gênero na atividade econômica? A resposta é única: aumentar o preço geral destes produtos para todos os clientes. Simples assim.

A intenção dos proprietários de pizzarias da capital cearense – e de boa parte do Brasil –, todavia, era dupla: a primeira consistia em sobretaxar os clientes que pediam mais de um sabor na mesma pizza, de modo a desestimulá-los da ideia, visto que o tempo de preparação da pizza de dois sabores (e, portanto, seu custo) é maior; o segundo intuito seria, claro, para aqueles que faziam questão de manter o pedido com duplo sabor, compensar os custos dessa maior demora no preparo. Ora, como estes empresários, doravante, não poderão promover esta cobrança desigual na medida da desigualdade do custo dos pedidos, a solução será aumentar os preços para todos os consumidores, inclusive para quem pedir a pizza com apenas um sabor. Não há almoço nem pizza grátis, e ninguém vai trabalhar no prejuízo, por incrível que pareça.

Mas o que mais espanta é que não se tratava de uma fraude cometida pelos empreendedores: os compradores estavam absolutamente cientes da política de cobrança dos estabelecimentos, e aceitavam a transação voluntariamente. Se os pizza lovers de Fortaleza estivessem tão insatisfeitos assim com o sistema, de duas uma: ou o anseio coletivo de tantas pessoas geraria uma forte demanda por este alimento sendo vendido de forma diversa, e esta, fatalmente, já teria sido atendida por algum investidor do setor ávido por lucro; ou as pessoas iriam comer outra coisa, oba bolas!

Se as pizzarias ainda estavam abarrotadas de gente, é porque ninguém se importava realmente com o “injusto” método de cobrança. Ou seja, o Estado usou dinheiro cobrado do pagador de impostos para correr até este mesmo cidadão, que estava sentado comendo sua pizza tranquilamente, e gritou “calma, nós viemos te ajudar – mas o preço da pizza de mozzarella vai subir”. Hein?

As companhias aéreas, a seu turno, resolveram nos sacanear a todos: transportavam “de graça” nossa bagagem até então, e agora poderão cobrar por cada mala despachada. Esta agência reguladora só pode estar de conluio com TAM, Gol e demais empresas do ramo. Bom, ela está mesmo, mas não pelos motivos que você possa estar imaginando.

Primeiro: um avião não está isento das leis da Física. Quanto mais pesado ele voa, mais combustível ele gasta, e mais caro sai perfazer aquele voo. Portanto, as companhias aéreas sempre cobraram para transportar cada miligrama das suas tralhas. A diferença é que, agora, em tese, elas podem te cobrar mais barato pela passagem, já que foram autorizadas pela “benevolente” ANAC a cobrar à parte pela bagagem. Ou seja, se você for para o aeroporto apenas com sua mochilinha nas costas, pode vir a pagar menos pelo seu ticket a partir de agora, pois, até então, o dispêndio com este serviço extra era socializado entre todos os passageiros, inclusive aqueles que entraram no avião apenas com a roupa do corpo.

Mas se elas promoverão, de fato, este benefício a seus clientes, tal qual diversas companhias domésticas americanas de baixo custo, como a Virgen Airlines, o fazem, é difícil saber, já que nesta atividade econômica, como em tantas outras neste nosso país, vigora um cartel promovido pelo próprio Estado – eis aí a sacanagem. Será que haverá motivação, em um mercado (que de livre não tem nada, já que empresas estrangeiras não podem operar voos domésticos) dominado basicamente por apenas quatro “concorrentes”?

A conferir, mas não deposito muitas esperanças nisso, já que a única preocupação dessas oligopolistas costuma ser apenas agradar a própria agência reguladora, cumprindo suas determinações, a fim de manterem-se na reserva de mercado por ela criada. Cliente? Que cliente?

Um pagamento com cartão de débito demora de um a quatro dias para cair na conta do comerciante. Com cartão de crédito, até trinta dias. Com dinheiro vivo, ele vê a cor da bufunfa na mesma hora. Como até as plantas do meu jardim sabem que cem reais na minha mão hoje é melhor do que receber a mesma quantia no mês que vem, este comerciante resolve cobrar mais barato de quem pagar com dinheiro em espécie ou no débito em conta, e… é multado pelo Estado brasileiro, claro! Onde já se viu usar a lógica nestipaíz?

Siga as regras e ande na linha, meu amigo: divida o custo de esperar para receber o dinheiro do banco entre todos os clientes, mesmo aqueles que sacaram dinheiro antes de ir até seu estabelecimento. Isto aqui é Brasil, pô! Respeite o lobby dos banqueiros e das operadoras de cartão junto aos agentes estatais, ora essa…

Será que posso comer minha pizza em paz agora, governo?

Editado: parece que Temer ouviu minhas preces e resolveu, enquanto eu escrevia, liberar os comerciantes a cobrarem preços diferentes para pagamento à vista. Certamente vai ser benéfico para todos, pois sempre que o Estado para de interferir nas relações entre as pessoas, ganham nossos bolso e liberdade. Valeu presidente!

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8 comentários sobre “Pizza, Bagagem no avião, Cartão de Crédito: o que o Estado tem a ver com isso? No Brasil, MUITO!

  1. A indústria da regulamentação do estado brasileiro.
    Quando vemos pérolas como esta, descritas de forma tão honesta e tão lúcida, nós lembramos que a ÍMPERE trituradora, ops tributadora colonial lusitana, se tornou um câncer, na administração da colônia feudal de Pindorama, vulgo Brasil !
    Basta ver, como se comportam os fidalgos e os lacaios deste sistema de coisas, o negócio deles é apenas TRIBUTAÇÃO !
    O cidadão sofre TRI-butação , um sistema de vassalagem bem curioso, começa com os impostos pagos, na árdua tarefa de se construir um negócio, seu sócio oculto, está lá, se capitalizando, dê seu empreendimento, certo ou não, a parte dele, já está garantida, a sua parte foi, criar através de suas demandas, mais empregos, a dele é informar ao sindicato, para você receber o sacana boleto, para pagar algo, para pessoas que você nunca verá em sua vida! Sindicato, grande negócio!
    A construção da carteira de clientes, custos, manutenção, administração e ampliação, tudo será tributado pesadamente assassinando a competitividade de sua empresa! Se suas equipes tiverem ” sangue nos olhos ” poderão padecer durante cinco anos, para vencer ou morrer no mar das estatísticas coloniais brasileiras!
    Passado alguns dias, e você descobre que a limpeza é pesadamente tributada! Por isso, atividades, podem ser financeiramente conveniente, você quer gastar pouco em IMPOSTOS para limpeza!
    Seu cliente se identificou, seu trabalho faz parte do que AGREGA resultado ao negocio dele ! O que seu sócio oculto agrega?
    Uma tabela de impostos para inviabilizar sua vocação e confirmar com letras draconianas que você, AMA O FAZ !
    Então começou uma nova guerra!
    Você, depois do calvário da garimparem colonial imposta, tem pela frente o merecido desfrute, de suas conquistas e com elas mais uma frustração, daquelas capazes de transformar o país no maior consumidor de todos os tipos de drogas do mundo, então você para, respira, lê uma análise política, pensa nos 2 trilhões de impostos pagos, depois pensa nos 300 bilhões de dólares parados nos USA, recebendo juros incrivelmente baixos, respira mais um pouco, e se pergunta :
    QUE ESPERMATOZÓIDES SÃO ESSES ?
    Não vamos escrever palavrões, isso não tem mais função lingüística, tudo foi tão banalizado, que só restou uma conclusão :
    SOMOS COLONOS EM NOSSO PRÓPRIO PAÍS !
    Até quando ?
    Hoje teve uma eleição no condômino, as estatísticas eleitorais são tristes :
    50 % dos eleitores não se importam realmente se é o demônio , o satanás ou o diabo, que cai governar, estão simplesmente DOPADOS com sua malandragem, de deixar como está, para ver como é que fica.
    Dois terços sofrem de um individualismo, que assassina o país, que hoje não passa de uma terra de exploração.
    Sobrou um terço, são aqueles que sabem o significado da palavra cidadania, polis, verdade, humanidade, história.
    Quer saber?
    Cansei da pizza das capitanias HEREDITÁRIAS !
    Uma coisa que começou errado, dificilmente dará certo!
    A operação mãos limpas, acabou de perder o lugar no guiness ! Gostei do “FUCKS” : A lei do povo não é essa ! PAREM JÁ COM ESSA PALHAÇADA !
    Crise?
    Só se for MORAL !

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  2. O Estado regulamentador nos defende dos empresários gananciosos…. E quem nos defende do Estado regulamentador? “Who watches the watchmen?”

    Como disse no post anterior, não vejo problema em um Governo administrativo; mas um Estado regulatório é quase como um chute nos “yarbos”.

    PS: Essa questão das passagens aéreas, vai pegar muita gente de calça-curta. Muitos estão elogiando o Senado que barrou esse “absurdo”… mal sabem eles o que lhes aguarda. Se bem que das aéreas e das teles brasileiras, eu não espero é nada…

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    1. Quem nos defende do empresário ganancioso é o concorrente dele, tão ganancioso quanto – isso até o estado se meter na peleja e “apaziguar” tudo, cobrando apenas alguns cobres por esse serviço não solicitado…

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  3. Melhor ainda é o estado querer interferir se a empresa de cartão de crédito vai passar o dinheiro pro comerciante em 2 dias ou 45 dias. Não entendo porque o Estado brasileiro quer meter o bedelho em tudo. Porque não se preocupam em fazer a infraestrutura do país e deixa as empresas em paz?

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    1. Pior, Douglas: agora o governo quer reduzir o juros rotativo do cartão de crédito com uma canetada – o que vai tão somente obrigar os bancos a NÃO mais emitir cartão de crédito para uma considerável parcela da população que está endividada.

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      1. O pior é a intenção: colocar mais dinheiro no mercado, mudando de 45 para 2 dias. Realmente a velharada lá de cima tinha que se renovar. Deixando de ter cartão de crédito quero ver o que vai fomentar a economia, já que a maioria da população só consome via dívida (consórcio, financiamento, carnê de clube de compras, etc).

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